Cor(agem)

Qual a forma da coragem? No que consiste esse sentimento? Isso chega a ser um sentimento? Ou seria uma postura valorada com base numa referência externa? Essa pergunta faz qualquer sentido? A coragem tem uma forma?

Talvez a resposta esteja escondida na própria palavra. O prefixo "cor" é o mesmo de "coração". Agem é a conjugação do verbo "agir" na terceira pessoa do plural, curiosamente destinada àqueles que estão fora de nós: ELES agem. Os arquétipos que usamos para facilitar a compreensão desses afetos são sempre exagerados. As sutilezas da vida costumam passar despercebidas pelo crivo da nossa racionalidade grosseira. O mito do herói, comum a todas as culturas humanas, envolve superações improváveis, batalhas invencíveis e ainda assim vencidas pelo grande herói, detentor de toda coragem que gostaríamos de ter perante a vida. A coragem, que pela palavra nada mais é do que a ação que  vem do coração, costuma estar tão distante dos nossos afetos que precisa de uma historia grandiosa para ser compreendida.

Em mim esse sentimento vem como uma vontade de explodir. Vontade que se manifesta como uma sensação no corpo. Nem de longe desagradável. Uma clareza ofuscante sem forma e sem bordas. Uma lucidez sem palavras que vem na forma de uma certeza no peito. Vontade de explodir em mil pedacinhos de consciência cósmica e virar um com o próprio Universo. Vontade de viver na materialidade todos os melhores sentimentos que vivi até hoje de uma só vez. Vontade de dançar, ouvir música, amar, ensinar, sorrir, cantar e voar. Dar as costas para toda moral e simplesmente ser. Coragem para ser o que sou, seguir nada mais que a voz  do meu próprio coração. Sem apego, sem medo, sem dúvidas, sem dar a mínima para as vozes do mundo que tentam me dissuadir de agir da maneira que me é natural. É assim que a coragem costuma se mostrar para mim. Uma total aceitação e certeza de ser quem eu sou. A coragem como um estar em paz com a própria essência.