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Mostrando postagens de julho, 2020

Mentira

O cansaço brutal da falta de realidade que sufoca a rotina tem pesado por aqui. O excesso de informações vazias que me bombardeiam as sinapses e os sentidos pela tela do computador tem cobrado seu preço. Na busca por uma conexão qualquer em meio a uma vida vazia de sentido claro vejo que criamos um monstro que agora nos domina na busca de cliques e likes em meio a redes sociais que nos fazem sentir pertencentes a uma estrutura ilusória fora de nós e que visa substituir o afeto, o abraço e a conexão real pelos tons de vermelho das notificações que nos avisam que alguém distante apertou um botão qualquer em reação a uma ilusão de nós projetada pelo nosso inconsciente viciado nesse mundo intocável que habita a nuvem. Me alieno por opção tentando buscar uma salvação desse mar de ilusão que decidiu fazer morada no meu coração. A solidão brutal que me coloca nessa prisão dentro de mim mesmo não se resolve com as notificações que me chegam a todo instante só para me lembrar do abismo do meu i

Deus

Há tempos tenho para mim que Deus é um artista. Mais do que uma explicação racional para essa intuição, convenço-me dessa crença por meio da própria sensação de fazer parte de um quadro em movimento. Quando crio algo em meu piano sinto que estou apenas captando uma vibração do ar e materializando-a na forma de sons. A mesma sensação me vem quando me pego escrevendo e acessando o fluxo dos meus afetos enquanto os dedos digitam as teclas do teclado. Esse acesso que me vem quando sinto estar fazendo arte me remete ao divino que existe em tudo aquilo que nos é desconhecido. Mas por algum motivo essa ideia de um Deus que é só artista tem me incomodado. Deus deve ser algo maior que um artista. O artista apenas representa algumas das características de Deus quando este se manifesta na forma de um ser humano. Deus deve ser também engenheiro, arquiteto, matemático, filósofo e quem sabe até advogado. Deus é a inteligência por trás do movimento dos átomos que compõem  as pessoas. Deus é a força d

Ruptura

Já faz um tempo que tenho percebido em mim um novo tipo de cansaço. Um cansaço que não tira férias, que está sempre ali, ora como protagonista, ora como ruído de fundo. Demorei muito tempo para perceber a natureza desse cansaço. Em um raro momento de silêncio, em meio a uma sinapse acelerada que disparou um pensamento ultralúcido, percebi algo num desses insights raros que costumam me visitar todo mês: estou exausto de mim mesmo. Essa pressão sufocante de ter que organizar todas essas imagens incoerentes  que me habitam e que parecem vivas em meu corpo apesar de não poderem ser tocadas me faz sentir o peso dos anos, dos traumas, das pancadas, dos erros de avaliação de um espírito que já não alcanço mais, mas que perturbam o espírito em evolução que tenta pular desse barco chamado passado e que não para de afundar. Dizem que o nosso corpo é nossa âncora com a realidade. Qual o sentido de uma âncora em um barco feito para afundar? Será que as dores da vida, marcadas no corpo, querem indu