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Mostrando postagens de abril, 2019

Repúdio à esperança (ou uma ode à Vida)

O que é esperança? Seria a retórica interna que visa justificar o descontentamento com o momento presente com base na fuga para o campo das projeções de um futuro idealizado? Uma não aceitação da vida tal como ela é e que clama pela necessidade do sonho? O desejo da mente de estar num tempo diferente do tempo do corpo? O prêmio de consolação para aqueles que pelas amarguras do caminho não tiveram condições de gostar da vida por inteiro, mas apenas dos pedaços agradáveis da vida? Não sei bem o que é a esperança e nem julgo aqueles que veem na esperança a salvação do momento presente. Só sei que esse conceito me cansa e por isso repudio toda forma de esperança. E nesse meu  repúdio opto por acolher com carinho a melancolia contemplativa de um corpo já cansado pelas ilusões provocadas em nome dessa tal "esperança". Me lembro dos meus primeiros contatos com esse sentimento. Já na infância regava pacientemente a semente da esperança. Esperava um dia ser um grande homem, conhecer

O conhecimento daquele que sofre (trecho extraído do livro "Aurora" do Nietzsche)

A condição das pessoas doentes, durante muito tempo e horrivelmente torturadas pelo sofrimento, mas cuja inteligência, apesar disso, não se perturba, não deixa de ter valor para o conhecimento, sem falar até dos benefícios intelectuais que trazem consigo toda solidão profunda, toda libertação súbita e lícita dos deveres e dos hábitos. Aquele que sofre profundamente, encerrado de alguma forma em seu sofrimento, lança um olhar gélido para fora, sobre as coisas: todos esses pequenos encantamentos enganadores em que habitualmente se movem as coisas, quando são olhadas por alguém saudável, desaparecem para ele: ele próprio permanece envolto em si, sem encanto e sem cor. Supondo que viveu até aqui em qualquer perigoso devaneio, o supremo chamamento à realidade da dor constitui o meio de arrancá-lo desse devaneio: e talvez seja o único meio. A formidável tensão do intelecto que procura se opor à dor ilumina com isso tudo o que diz respeito a uma nova luz: e a indizível atração que sempre

A leveza da melancolia

Tem dias nos quais a desesperança me serve melhor do que as projeções fantasiosas de um futuro perfeito. Às vezes prefiro aquela melancolia já cansada do que aquela empolgação com a vida que no fundo vem sempre acompanhada de perto pelo temor da morte. Talvez a sabedoria de vida resida em saber escolher com inteligência os nossos venenos. Acho que cada alma tem uma predileção por algum tipo de veneno. Não podemos generalizar. Para alguns o veneno é o amor, para outros o trabalho, alguns se matam com pequenas doses de missas e cultos, já outros preferem beber e fumar. Para os artistas o veneno é a própria vida e o antídoto a arte. Há aqueles que se embriagam do cotidiano, das manchetes de jornais, das discussões no Facebook, da conversa pequena com o guardador de carro, da importância dada à própria imagem, da inveja da conta bancária do vizinho, do sonho da vida não vivida, de alimentar fantasias que aplacam a dor de ter que encarar os próprios medos. No meu caso sinto que a esperança