A leveza da melancolia

Tem dias nos quais a desesperança me serve melhor do que as projeções fantasiosas de um futuro perfeito. Às vezes prefiro aquela melancolia já cansada do que aquela empolgação com a vida que no fundo vem sempre acompanhada de perto pelo temor da morte. Talvez a sabedoria de vida resida em saber escolher com inteligência os nossos venenos. Acho que cada alma tem uma predileção por algum tipo de veneno. Não podemos generalizar. Para alguns o veneno é o amor, para outros o trabalho, alguns se matam com pequenas doses de missas e cultos, já outros preferem beber e fumar. Para os artistas o veneno é a própria vida e o antídoto a arte. Há aqueles que se embriagam do cotidiano, das manchetes de jornais, das discussões no Facebook, da conversa pequena com o guardador de carro, da importância dada à própria imagem, da inveja da conta bancária do vizinho, do sonho da vida não vivida, de alimentar fantasias que aplacam a dor de ter que encarar os próprios medos. No meu caso sinto que a esperança é o veneno da minha alma. A projeção idealizada de uma segurança qualquer num futuro incerto alimenta minha mente e desconecta meu corpo. A insaciável fome do ego, em sua eterna busca por prazer e segurança, me cansa até a última das minhas células. Mas graças à dualidade da existência, de tempos em tempos essa esperança morre e dá lugar à melancolia. E quando a melancolia chega eu me agarro a ela com todas as minhas forças. Essa melancolia aquieta a mente. O fim da esperança é também o fim da possibilidade de ação da mente. A mente só toma o lugar quando acredita que pode resolver os problemas do corpo. Quando ela percebe que não há mais salvação ela se cala. E no silêncio da mente eu me encontro e me sinto mais leve. A melancolia traz consigo a leveza que toma o lugar do peso imposto ao corpo pelo veneno da esperança que contamina a alma e degenera a vida.

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