A árvore

Vejo um pássaro voando em círculos num lindo céu azul. Sinto o vento afagar minha pele, como se me consolasse de mim mesmo. Ouço os pios dos canários ao fundo, como se os habitantes do céu estivessem manifestando em sons a captação dessa frequência que ressoa em tudo. Os insetos parecem querer entrar tambem nessa conversa. Um grilo dá a palavra do dia enquanto uma borboleta sobrevoa seu céu e ignora sua presença terrestre. Olho para o horizonte e vejo uma enorme árvore. Caminho em sua direção. Suas raízes parecem árvores inteiras saindo de seu centro magnífico. Existem raízes por todos os cantos, algumas caem do céu como cipós que buscam a conexão com a terra, outras se espalham pelo chão formando ranhuras que brotam de dentro da terra, buscando a luz e talvez um pouco de ar. Me sinto pequeno e maravilhado com a grandiosidade dessa árvore. Me pego imaginando qual seria a profundidade das raízes que não consigo ver. Dizem que na média, as raízes de uma árvore costumam penetrar na terra a mesma medida que sua copa busca os céus. Imagino se essa estimativa valeria para Ela. Me sinto absorto pela minha própria imaginação, encantado com aquele ser sagrado. Encosto em seu tronco, sinto sua potência no meu coração, começo a chorar de encantamento. Choro por ter tido um lampejo da sabedoria cósmica na interação com aquele ser. Aquela árvore era a representação do equilíbrio sagrado que existe na natureza. Fincada na terra, com os pés firmes no chão, construindo para si uma base sólida para que se alimentando da terra possa buscar a luz que vem dos céus. E na nutrição que vem do solo tira forças para retribuir ao solo tudo aquilo que ele um dia fornecerá de volta a ela. Suas folhas mortas se transmutam, penetram na terra, se decompõem, servem de alimentos aos insetos que trabalham incessantemente numa rede de cooperação que fertiliza o solo de onde a própria árvore se alimentará novamente. As formigas se movimentam pelas árvores, pois estas estão ocupadas captando a luz do sol em suas folhas, que atuam como painéis solares para recarregar as baterias localizadas em suas flores, que se abrem sem questionar o porquê e nisso embelezam o mundo e alimentam as abelhas, que produzem o mel que adoça as nossas vidas. Essa é a perfeição da natureza. Choro também por perceber que como espécie fugimos disso tudo para nos afogarmos dentro de nossos mundos imaginados, que nem de longe se comparam à beleza da natureza da qual estamos fugindo há tanto tempo. Choro por não conseguir entender o porquê disso. Choro por sentir a necessidade de querer entender isso tudo e não conseguir ser como a flor, que se abre, embeleza o mundo e sai de cena em paz, participando do próprio fluxo da maneira mais majestosa possível, perfeitamente alinhada à sua essência. Choro por não ser árvore. Choro por ser humano. 

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