Significado

No que consiste o significado das coisas? Seria o significado de algo um arranjo para uma junção estruturada de palavras que desperta em nós, seres de linguagem, o sentimento de clareza e familiaridade com os conceitos subjacentes à coisa em si? A ponte que usamos através da linguagem entre o nosso mundo, perecível, em decomposição constante, com o mundo seguro das ideias eternas de Platão? Às vezes sinto que toda busca humana não passa de uma grande busca por significados. No início nos contentamos com o significado das pequenas coisas: a compreensão da dinâmica das estações, o movimento das gotas de chuva impulsionado pela enigmática atração gravitacional inerente à matéria, a compreensão das pequenas regras dos homens, o entendimento da nossa história, o funcionamento político-social do Sapiens. Mas depois de navegar em meio às palavras que definem esses significados superficiais, sentimos a necessidade de um significado mais profundo. Queremos desbravar o significado além da definição das coisas. Queremos tocar com o coração a essência própria das coisas em si. Não basta a compreensão das estações. Queremos compreender o existir, a metafísica, o sentir, o ser e o devir. Não queremos entender só o ontem e o antes de ontem, mas o amanhã e o depois do amanhã. E nessa eterna busca pela compreensão da essência das coisas acabamos por produzir mais coisas. O desconforto da ausência de significado nos impele à novas criações. Mas aparentemente essa essência própria das coisas nos é fugidia. Quando acreditamos ter dado um passo em direção à essência das coisas as próprias coisas se movimentam ou se transformam em outras coisas. E assim criamos cada vez mais coisas e nos perdemos cada vez mais nessa batalha por um significado de qualquer coisa. E nesse afogamento produzido pelo excesso de coisas em meio à ausência de significados, às vezes me sinto como um náufrago à deriva. Tenho as palavras, mas me falta o sentimento que atribui o significado verdadeiro às coisas que me cercam. E em meio a esse sufocamento produzido em mim mesmo me lembro de Lacan, que dizia que a divisão do nosso espírito se dava pela adequação dos nossos afetos às regras da linguagem. Essa simples ideia dispara em mim uma série de sinapses que acalenta meu corpo cansado pela busca de um significado qualquer. Uma ideia! Uma mera ideia! Genial de certo, porém, ainda uma ideia. Construída com palavras, se usando da linguagem para subverter o valor inerente à própria linguagem. Uma ideia usando palavras para dizer que o que importa, o verdadeiro, o valioso, o profundo, encontra-se fora do campo da linguagem. E com essa ideia que me toca como uma prece encerro essa verborragia inconsciente que por necessidade afetiva precisou se manifestar no mundo sensível na forma de texto. Nesse momento, ao fim desse texto, já não sinto mais necessidade das palavras. Não são elas que me levarão a qualquer significado pelo qual se valha a pena buscar. É no silêncio, fora das regras da linguagem, onde devem repousar as essências e os significados reais de qualquer coisa que possa existir. Mais uma vez é chegada a hora de meditar.

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