Moralidade

É só quando me desprendo da moralidade a mim imposta que posso me sentir novamente inteiro. O acréscimo de energia que dessa libertação provém vem para me lembrar do cansaço inerente à adequação do corpo à regras que não foram cunhadas pelo espírito. Esse cansaço me impele à luta para me libertar das algemas que aceitei usar quando minha consciência lutava para se construir. A libertação me ensina que para se soltar das garras da moral é necessário esforço. Algum tipo de construção deve se manifestar: um quadro, uma canção, um poema, um parto. Mas não pode ser qualquer pintura, qualquer melodia, qualquer palavra, qualquer nascimento. A manifestação deve vir da fonte, da morada do espírito, desse infinito de potencialidades que mora no vazio criador, do conteúdo que prescinde a forma, do silêncio que permite a escuta da palavra que liberta. A alma desconhece os livros de condutas, as leis dos homens, as ilusões de certo e errado, os biscoitos da sorte do ego, as ideias tortas de bem e mal. Essa fonte não pode ser contida por formas efêmeras e ilusórias. Ela não cabe numa caixa, desconhece as bordas que aprisionam e restringem o movimento. Para se ver livre da moral é preciso acessar o centro do ser, não necessitar da aprovação do outro para aceitar o que se sente, não fazer absolutamente nenhum esforço para agradar o outro, não fazer nenhum esforço para não machucar o outro, não permitir que qualquer vestígio do outro invada o espaço sagrado que é você. E só assim então, quando estamos livres de toda e qualquer forma de moral, despidos desse espaço defensivo e combativo do ego, que a consciência pode perceber que a separação entre nós e os outros é a grande ilusão que nos levou a construir as grades que nos afastaram de nós mesmos.

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