A casa
Minha casa é o espaço das minhas sensações
Ela não é feita de tijolos, cimento e vergalhões
Ela consiste no conjunto das minhas emoções
Seu chão é firmado no meu passado de ilusões
Seu telhado é a soma das minhas projeções
A estrutura da minha casa é etérea, fluida, sutil
O tempo fluindo entre um março e um abril
Pinta as minhas paredes de rosa, cinza e anil
Às vezes me brinda com uma coragem febril
E às vezes me leva rumo a um desespero infantil
E no contínuo fluir do oceano dos meus afetos
Percebo o ruir daquilo que achava ser certo
Aos poucos do sono de mim mesmo desperto
Me libertando do peso duro de um concreto
Que me esmagava sob a pretensão de ser teto
E que limitava a dimensão das minhas asas
Fazendo de gaiola o que deveria ser a casa
Reduzindo o calor do meu fogo a uma brasa
Se agarrando com apego a essa mentira rasa
Da separação criada entre o ser e sua causa
Percebendo a ruptura dessa grande ilusão
Que se esvai em meio ao vazio da meditação
Vou aos poucos aquietando meu coração
Construindo um novo casulo de proteção
Cuja membrana é a inteira desconstrução
Daquilo que outrora era o próprio chão
Mas que em algum momento virou prisão
Para que através de uma tensa inquietação
Me fizesse perceber como que num clarão
Que a vida é o movimento de um eterno pistão
Pulsando entre a ilusão e a desconstrução
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