O crescimento econômico perpétuo... Isso é possível?

Desconfio muito desses jargões soltos de economistas que bostejam discursos prontos na Globonews e se escondem por trás de palavras como "taxas de juros", "metas de inflação", "expansão de crédito", "confiança dos investidores", etc.. Para mim qualquer estudo sério de economia deveria começar por uma visão antropológica do comportamento humano, em seguida migrar para a psicologia para só então falar em economia. Não consigo ver como o consumismo desenfreado estimulado por essa necessidade compulsiva de crescimento pode ser bom para a psicologia do Sapiens. Acho sempre saudável olhar para a nossa espécie pelo que ela é: um monte de macacos que usam roupas, se domesticaram na tentativa de suprimirem desconfortos naturais e que sofrem por isso. A sociedade humana moderna me parece uma cobra que devora o próprio rabo. Acredito também que Raul estava certíssimo quando dizia: "Tá rebocado meu compadre, como os donos do mundo piraram. Eles já são carrascos e vítimas do próprio mecanismo que criaram."
A gente pode inventar tecnologias novas, fabricar foguetes, ir à lua, inventar indicadores econômicos, discursos sofisticados que passam pela aprovação do crivo do cientificismo moderno e até nos convencermos de que estamos no caminho certo. Mas nunca mudaremos a nossa própria psicologia e no final das contas é isso que nos rege.
A única coisa que pode ser sustentável para a espécie é um estilo de vida compatível com as nossas necessidades de bem estar psicológico. Freud tem um livro fantástico chamado "O mal estar na civilização". Nesse livro ele disseca como o processo civilizatório gerou um mal estar permanente no homem. Uma das ideias centrais desse livro é que para que possamos colaborar em grandes bandos tivemos que castrar o amor. O amor sexual entre dois seres humanos é um sentimento natural tão forte que faz com que uma pessoa específica seja suficiente para a outra e isso é incompatível com a necessidade que a civilização possui de colaborações em grandes bandos. Para isso a civilização precisou castrar o amor sexual em seu estado pleno gerando todo tipo de neurose no ser humano para que ela possa continuar existindo.
De acordo com Freud, para contornar esse problema da castração psicológica pelo processo civilizatório existem três saídas: intoxicação por substâncias psicoativas (que Freud vê como uma necessidade da espécie), a alienação pelo trabalho e o entorpecimento pelos mitos religiosos. A questão é que cada indivíduo só pode ser minimamente feliz se puder usar uma ou mais dessas válvulas de escape da forma mais adequada à sua própria natureza.
O Estado ao proibir as drogas por uma questão moral já elimina uma das três formas possíveis de solução do mal estar gerado pela própria civilização. Sobram então duas: ir para igreja ou se matar de trabalhar. Se a economia for mal e o desemprego for alto então fica difícil se alienar com base no trabalho. Além disso, Platão já sacou na "República", três séculos antes de Cristo, que o trabalho só será eficaz se os indivíduos desempenharem atividades alinhadas com a sua natureza. E infelizmente a lógica do crescimento contínuo não permite que essa escolha possa ser feita, pois os investidores tem pressa de verem seus lucros crescerem independente do bem estar psicológico da espécie responsável pelos modos de produção daquilo que gera lucro.
Sobra então a religião que da forma que se desenvolveu gera mais culpa, controle e ansiedade nos fiéis do que resolução e/ou bem estar psicológico. E mesmo assim, existem indivíduos imunes a essa coletivização das especulações metafísicas que visam produzir discursos prontos para o rebanho. No final das contas a própria civilização restringe o acesso aos remédios necessários para curar os mal estar psicológico causado por ela mesmo. E se a economia no final das contas é um reflexo da psicologia coletiva dos Sapiens que compõe o que chamamos de mercado, como a ideia de um crescimento econômico perpétuo pode ser compatível com as necessidades psicológicas da própria espécie?

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