O ser e a música
Existe uma neblina que se interpõe entre observador e ser
E quando ela se adensa me atrapalha a visão
O primeiro sintoma é a desconexão
O tempo do mundo deixa de ser o tempo do ser
A transcendência passa a ser quase uma necessidade
O ser se sente sufocado pelo maquinismo do cotidiano
A rotina parece ser o combustível dessa neblina
Ela se alimenta de condicionamento e incompreensão
Mas acontece que o ser é forte
Ele também quer fazer valer sua vontade de potência
E de pouco em pouco vai se fazendo ouvir
Sussurrando constantemente nos ouvidos desse observador
Tentando se iluminar para se fazer ver através da neblina
E nisso ela se espalha e se enfraquece
A neblina também se cansa, sua opacidade pesa
E nessa dança de vontades o ser se revela
O primeiro sinal é uma leveza segura, uma certeza na presença
Uma harmonia fluida, resoluta, não diminuta, mas dominante
O segundo sinal é a certeza no ritmo
O tempo dos afetos se adeqüa ao tempo do mundo
Em seguida as palavras que usamos desmedidamente soam diferentes,
como se os fonemas tivessem se transformado em melodia
Harmonia, ritmo e melodia...
Será que esse ser é música?
E de repente a neblina se lembra de que música precisa ter tensão
A resolução na tônica só existe graças ao acorde dominante
E com esse sutil lembrete ela se adensa, obscurece o ser, e torna a quinta diminuta
Mas mesmo o acorde diminuto, tão triste e melancólico, não se sustenta
Ele também pede uma resolução
E é com a certeza no peito, de que a vida é música
que eu pacientemente aceito a canção da minha vida
E espero por um acorde maior
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